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Sumiços que são (quase) eternos

Eu devia começar com uma desculpa, não devia?
Mas todas as desculpas para vestibulandos são inúteis. Larguei o blog logo no início porque a carga de estudos estava ficando cada vez mais intensa e eu estava muito sem tempo.Finalmente esse período está acabando. O ENEM já é próxima semana e além de desesperada eu estou bastante feliz por estar de volta.
O blog não possui nem dez posts, mas espero ter tempo para desenvolver todos os  projetos e textos que gostaria de postar aqui.
Espero que entendam o motivo do sumiço (que parecia que ia durar para sempre, não?) e tenham paciência comigo até que eu possa escrever algo decente para compartilhar com vocês.
Até breve!

[Resenha] Sangue Quente - Isaac Marion

R é um jovem vivendo uma crise existencial - ele é um zumbi. Perambula por uma América destruída pela guerra, colapso social e a fome voraz de seus companheiros mortos-vivos, mas ele busca mais do que sangue e cérebros. Ele consegue pronunciar apenas algumas sílabas, mas ele é profundo, cheio de pensamentos e saudade. Não tem recordações, nem identidade, nem pulso, mas ele tem sonhos. Após vivenciar as memórias de um adolescente enquanto devorava seu cérebro, R faz uma escolha inesperada, que começa com uma relação tensa, desajeitada e estranhamente doce com a namorada de sua vítima. Julie é uma explosão de cores na paisagem triste e cinzenta que envolve a "vida" de R e sua decisão de protegê-la irá transformar não só ele, mas também seus companheiros mortos-vivos, e talvez o mundo inteiro. Assustador, engraçado e surpreendentemente comovente, Sangue Quente fala sobre estar vivo, estando morto, e a tênue linha que os separa. 
Apesar de todas as críticas (a maioria feitas por pessoas que nem se quer leram o livro), decidi averiguar por conta própria se Sangue Quente era mesmo uma boa história ou apenas “Crepúsculo com zumbis”.

Se vocês acreditaram que a segunda opção seria a mais provável, felizmente, se enganaram muito.

R é um zumbi que se arrasta, geme, come cérebros. O diferencial é que R (que não se lembra do próprio nome, mas acha que começava com essa letra) tem pensamentos muito profundos a respeito de sua existência, da nova condição do mundo e sobre o que é estar vivo ou morto. Seria cômico se não fosse trágico. É essa sensação constante que temos ao ler o que se passa em sua mente.
Ele tenta se apegar a qualquer fragmento de vida que exista no mundo pós-apocalíptico. Objetos que pertenceram às pessoas que foram devoradas, discos de vinil do Frank Sinatra, toda a sorte de artefatos que lembravam como o mundo costumava a ser. Sua mente entra em contradição sobre o que é estar vivo ou morto. Há uma parte que sente quase prazer com o ócio e a simplicidade da morte. A outra representa o desejo de estar vivo novamente. Falar, sentir e se expressar. Ser livre das limitações impostas pela facilidade da morte.

“Antes, quando eu estava vivo, nunca poderia fazer isso. Ficar parado assistindo ao mundo passar por mim, praticamente não pensando em nada. Lembro-me do esforço. Lembro de objetivos e prazos. Metas e ambições. Lembro-me de ser cheio de propósitos, estando o tempo todo em todos os lugares. Agora, estou apenas parado aqui na esteira, me deixando levar (...) É fácil estar morto.”

Julie é totalmente o contrário do que se espera de uma protagonista feminina. Ela não é inocente, nem boazinha e muito menos delicada. É o tipo de personagem que você gosta e antipatiza ao mesmo tempo. Toma decisões que muitas vezes são erradas, fala muito palavrão e se sente completamente perdida.

Assim como R, Julie vive em uma contradição. Há um lado nela que sente falta da calmaria do mundo, das coisas e das pessoas que se foram. Porém, há outro que luta pela sobrevivência e pela esperança de que haja uma mudança na situação miserável que seu mundo e as pessoas que nele vivem mergulharam.

Quando um zumbi se alimenta de um cérebro, as memórias e sensações do Vivo acabam sendo passadas para o Morto. Assim, por alguns minutos, ele se sente como se tivesse a vida da pessoa que acabou de matar. A ligação entre as suas personagens acontece justamente quando num ataque, R come o cérebro do namorado de Julie, Perry. É, eu sei, seria cômico se não fosse trágico. Isso acaba explicando o amor entre os dois (o que tanta gente criticou, pois zumbis não amam, blá, blá, blá). Muita gente também reclamou o fato do autor ter deixado muito vago o modo como aconteceu a destruição do mundo e o que causou o vírus que zumbificou a população.

Só que não é bem assim.

O amor entre uma viva e um morto. Alguém que vive e alguém que deseja viver. Esperança e desesperança. O mundo anterior e o mundo atual. A contradição entre tudo isso torna tudo mais fascinante! Alguém que luta para sobreviver e alguém que luta para recuperar o mínimo vestígio de humanidade que sobrou em si.

Um amor de metáfora.

Sangue Quente, apesar de ser um livro com zumbis, não é um livro de zumbis, propriamente. Sua história não é para ser interpretada ao pé da letra.

Atenção: os parágrafos a seguir não são revelações do enredo, mas sim uma análise. Existem pessoas que preferem ler e tirar suas próprias conclusões. Aqui estão presentes as minhas, então, se você não se incomoda com isso, vá em frente.

Apesar de R ser um morto, há muitas pessoas na trama que parecem estar mais mortas do que ele. Há uma constante indagação sobre o que realmente é viver e o que isso tem haver com a esperança, a mudança e a liberdade. Uma indagação que vai morrendo no meio da correria do cotidiano e que acaba quase extinta quando o mundo vai ao colapso.

Sobre o “apocalipse mal explicado”, acredito que ele não tenha sido tão mal explicado assim. Da mesma forma que os zumbis são quase uma metáfora trágico-cômica, o apocalipse aconteceu pelos mesmos motivos pelos quais os homens estão numa linha tênue entre a vida e a morte: a ganância, a arrogância, o poder ilimitado e inescrupuloso, a intolerância, entre outros fatores que tornam o homem cada vez mais desumano. Essa é a causa da “morte” da humanidade, tanto no sentido literal quanto no sentido psicológico.

De qualquer forma, Sangue Quente tem aquele ar sarcástico e cômico, que nos apresenta uma reflexão, mas não nos obriga a refletir de maneira imposta, pois as ideias que o livro passa estão nas entrelinhas, esperando para serem notadas. Isso o torna divertido e esclarecedor ao mesmo tempo. Foi uma leitura maravilhosa e me surpreendeu bastante. Decididamente, já está na categoria dos meus livros favoritos.

A narrativa cômica, as personagens e suas contradições internas, o clima de simplicidade quase inocente que o R dá aos seus pensamentos e um amor totalmente improvável são pontos que deixam a história ainda mais cativante.

Se vocês ainda têm dúvidas sobre o livro, recomendo que o leiam. Sério. Nunca se deixem levar por comentários negativos ou especulações de quem não leu ou quem taxa uma história de “Crepúsculo com zumbis”. O que pode ser ruim para alguém, pode ser ótimo para você. Por isso, dê uma chance. Sempre é bom tirar as próprias conclusões.


Eu espero que você se surpreenda tanto quanto eu.

Informações sobre o livro
Título: Sangue Quente
Autor: Isaac Marion
Editora: LeYa
Páginas:  256
Preço: Cultura - Saraiva - Submarino
Avaliação:

[Resenha] Puros - Julianna Baggott

Pressia pouco se lembra das Explosões ou de sua vida no Antes. Deitada no armário de dormir, nos fundos de uma antiga barbearia em ruínas onde se esconde com o avô, ela pensa em tudo o que foi perdido — como um mundo com parques incríveis, cinemas, festas de aniversário, pais e mães foi reduzido a somente cinzas e poeira, cicatrizes, queimaduras, corpos mutilados e fundidos. Agora, em uma época em que todos os jovens são obrigados a se entregar às milícias para, com sorte, serem treinados ou, se tiverem azar, abatidos, Pressia não pode mais fingir que ainda é uma criança. Sua única saída é fugir.Houve, porém, quem escapasse ileso do Apocalipse.
Esses são os Puros, mantidos a salvo das cinzas pelo Domo, que protege seus corpos saudáveis e superiores. Partridge é um desses privilegiados, mas não se sente assim. Filho de um dos homens mais influentes do Domo, ele, assim como Pressia, pensa nas perdas. Talvez porque sua própria família se desfez: o pai é emocionalmente distante, o irmão cometeu o suicídio e a mãe não conseguiu chegar ao abrigo do Domo. Ou talvez seja a claustrofobia, a sensação de que o Domo se transformou em uma prisão de regras extremamente rígidas. Quando uma frase dita sem querer dá a entender que sua mãe pode estar viva, ele arrisca tudo e sai à sua procura.
Dois universos opostos se chocam quando Pressia e Partridge se encontram. Porém, eles logo percebem que para alcançarem o que desejam — e continuar vivos — precisarão unir suas forças.
Esses são os Puros, mantidos a salvo das cinzas pelo Domo, que protege seus corpos saudáveis e superiores. Partridge é um desses privilegiados, mas não se sente assim. Filho de um dos homens mais influentes do Domo, ele, assim como Pressia, pensa nas perdas. Talvez porque sua própria família se desfez: o pai é emocionalmente distante, o irmão cometeu o suicídio e a mãe não conseguiu chegar ao abrigo do Domo. Ou talvez seja a claustrofobia, a sensação de que o Domo se transformou em uma prisão de regras extremamente rígidas. Quando uma frase dita sem querer dá a entender que sua mãe pode estar viva, ele arrisca tudo e sai à sua procura. Dois universos opostos se chocam quando Pressia e Partridge se encontram. Porém, eles logo percebem que para alcançarem o que desejam — e continuar vivos — precisarão unir suas forças.

Acho que Puros deve ser um dos livros mais estranhos que já li, se não for o mais estranho deles. Mas antes de explicar um pouco a minha opinião, melhor fazer um passeio pelo enredo primeiro.

Após uma série de Explosões, o mundo acabou passando por um verdadeiro apocalipse. Nove anos depois do acontecimento é o período em que a história se passa. A humanidade não era como antes. O mundo estava praticamente derretido. As Explosões não foram provocadas por bombas comuns, mas por algo que causou uma série de alterações e bizarrices. Pessoas se fundiram com o que estava mais próximo de si. Carros, outros indivíduos, plástico, vidro, árvores e até com o próprio chão. Os poucos sobreviventes estavam fundidos ou tinham algum membro faltando. Para piorar a situação, eram miseráveis. Como as lojas e outros estabelecimentos foram saqueados e destruídos, pouco sobrou para se usufruir. As condições são as piores possíveis e isso a autora faz questão de mostrar com os maiores detalhes.

Mas nem todo mundo teve um destino cruel. Antes das Explosões um Domo autossustentável foi construído para abrigar alguns “escolhidos”. Os que moram nele ficaram conhecidos como Puros, pois não tinham nenhuma mácula provocada pelas Explosões.

Pressia Belze, a quem somos primeiramente apresentados, mora nos fundos de uma barbearia destruída com seu avô. A princípio, é só mais uma miserável sem importância e que ao completar 16 anos (alguém poderia me explicar porque sempre aos 16 anos?) teria que se apresentar à OBR – uma espécie de organização hiper cruel para combater o Domo – para se alistar ou morrer caso não fosse útil. Acontece que Pressia está metida em uma verdadeira rede de mentiras e segredos mais macabros do que poderia imaginar ser possível. Ao conhecer Partridge e ao acompanha-lo em sua missão suicida, Pressia acaba entrando cada vez mais fundo nessa rede até finalmente chegar a um ponto em que não pode mais voltar.

Puros é um livro que até agora me deixa desconfortável para formar uma opinião. Desconfortável não significa que eu não gostei. Muito pelo contrário, apesar de ser uma história cruel, o livro é realmente muito bom. Talvez seja o fato que a autora não se contente em fazer uma história chocante, ela aparentemente quer esfregar isso na nossa cara. As detalhadas descrições dos fundidos, do sangue, das mortes, crueldade e sofrimento fizeram com que eu me sentisse realmente enojada em algumas passagens. Não que eu seja uma pessoa sensível ou algo parecido, mas isso pareceu ser algo bem desnecessário, a velha enrolação. É bem provável que essa não fosse a intenção real. Acredito que a Julianna Baggott tinha em mente fazer um enredo que deixasse qualquer um estarrecido e sem palavras. Ela conseguiu, para falar a verdade, só que em alguns momentos existiram verdadeiros exageros.

Esse ponto negativo acaba tirando um pouco o foco da história e que provavelmente deve ter incomodado muita gente, inclusive a mim. Mas, felizmente os pontos positivos conseguem por pouco superar essa falha e tornar a leitura mais prazerosa.

As personagens do livro são literalmente fantásticas. São muito bem trabalhadas, com personalidades fortes e únicas, além de serem tão... humanas (ou desumanas, no caso de alguns). Parecem ganhar vida com a narração em terceira pessoa. Cada capítulo foca em uma personagem diferente. Com esse aspecto, podemos ter uma visão mais ampla de seus pensamentos, opiniões, dores e crenças. É muito difícil não conseguir se envolver com cada um deles em proporções diferentes. O melhor é que a história não se foca somente nos protagonistas. Ela se estende a outras personagens, abrindo nossos olhos para sua importância no enredo.

Eu particularmente amei Pressia, Bradwell e El Captán. A forma com que eles enfrentam seus próprios problemas e se relacionam entre si é maravilhosa. Suas personalidades travam constantes conflitos entre a crueldade, o instinto de sobrevivência e o carinho que tem um pelo outro. Nem se fala na relação de El Captán com o irmão que se fundiu as suas costas. Cruel e brilhante ao mesmo tempo. Bradwell é um sobrevivente, um lutador calejado de tanto sofrimento, mas que tem um espírito forte e gentil. Pressia não é a protagonista fraquinha e insossa, mas também não é um monstro insensível na pele de garota que finge não se importar com nada. Ela é forte, mas ainda assim sente falta do Antes, de ter uma família e um pouco de paz.

Algumas revelações feitas no livro foram realmente surpreendentes e chocantes, muito bem recebidas e se encaixaram no enredo com perfeição. Já outras foram muito óbvias e um pouco decepcionantes. Nada que escandalize muito.
Além das personagens, o que mais surpreende em Puros é que mesmo sendo bizarro, vários dos acontecimentos são perigosamente reais. O Domo autossustentável, as bombas que causam anomalias e que tem proporções globais, os segredos que são escondidos da maioria da população e que são depositados nas mãos de poucos que se acham superiores. Até que ponto a humanidade está disposta a ir? Criando vírus, bombas biológicas e químicas, procurando se autodestruir? Esse é um questionamento bastante evidenciado no livro. A crueldade com os próprios semelhantes, a vontade incessante do homem de ser superior e ser idolatrado, o egocentrismo que leva aos poucos a destruição. São questionamentos chocantes e fortes que muitos procuram evitar pensar.

Por isso é difícil formar uma opinião sobre Puros. É um livro muito bom, com personagens incríveis e um teor realista. Ele te faz pensar que as outras distopias foram um pouco “fracas”, menos explícitas, leves demais. Tira um pouco da mesmice que o gênero andou caindo. O futuro destruído como palco de um romance que te faz babar. Puros é um livro intenso, sem amenização. Algo “bonito” não surge assim do nada como, por exemplo, a amizade, o amor, a esperança, etc. Claro que elas existem, mas não são como sentimentos transplantados, jogados na história só para amenizá-la. São coisas que surgem como uma simples ideia e que vão se espalhando e tomando de conta das personagens, trazendo a beleza no meio da crueldade. A amizade se transpassando ao instinto louco e individual de sobrevivência, o amor ao outro em vez do amor próprio egoísta. É algo lindo de se perceber em um livro.

No fim das contas, o livro é muito bom e ponto. Infelizmente, ele não é ótimo por conta desses deslizes que acabaram tirando o esplendor da história, mas nem por isso merece deixar de ser lido. Estou muito ansiosa para a continuação e para saber como a trama vai se desenrolar e, principalmente, como as personagens se sairão em uma realidade tão crua e brutal.

Informações sobre o livro
Título: Puros
Autora: Julianna Baggott
Editora: Intrínseca
Páginas: 368.
Preço: Cultura - Saraiva - Submarino

Avaliação:

[Aleatoriedades] Febres literárias.


Aleatoriedades literárias é um bloco onde qualquer assunto a respeito do mundo literário pode ser abordado. Adaptações cinematográficas que deram certo, opiniões, gêneros em destaque, etc.

É normal que após a publicação de um livro que atinja um sucesso estrondoso, o gênero do qual ele faz parte consequentemente receba mais atenção. Esses gêneros se tornam verdadeiras febres literárias e muitos autores se inspiram nesses conceitos para escreverem suas próprias histórias.

Romance sobrenatural, dramas psicológicos, distopias... São alguns dos diversos gêneros que estão recebendo bastante destaque. Por um lado, isso é ótimo. Imagine o quanto seria terrível procurar por uma distopia, por exemplo, e se deparar apenas com duas ou três opções? As febres literárias servem para expandir o mercado de livros e isso permite que uma variedade maior de histórias chegue às nossas livrarias.

Mas existe um lado não tão bom desse fenômeno. Quando a febre ganha cada vez mais força, as prateleiras aparentemente ficam sobrecarregadas se um gênero só e você se pergunta se não há mais nenhum outro livro fora os daquele conceito.
Foi isso o que aconteceu com os livros de vampiros. Após a publicação da saga Crepúsculo, vários de exemplares contando esse tipo de história encheram as prateleiras das livrarias. A princípio foi ótimo, mas depois de um tempo, quase todos os lançamentos eram sobre vampiros. Isso acabou levando o gênero para a mesmice e muitas pessoas acabaram criando aversão àquele conceito. Quem nunca ouviu alguém dizer:

“Nossa, se é de vampiro deve ser imitação de Crepúsculo. Não quero nem ler”.

E repentinamente a febre que cativou milhões acaba causando um impacto negativo em uma grande parte dos leitores. Pior, quando a euforia passa, há novamente aquela dificuldade para se encontrar os exemplares desejados, pois eles foram praticamente deixados de lado após a sua fama ter “acabado”.

Depois disso, para quebrar o preconceito e a mesmice quanto aos livros de vampiro, surgiram os mais variados tipos de romance sobrenatural protagonizados por criaturas diferentes: anjos caídos, lobisomens, fantasmas...

Com as distopias não foi diferente, apesar do gênero ainda não ter caído na “desgraça” de alguns leitores. Após o sucesso de Jogos Vorazes, muitos livros que retratam futuros opressores e governos totalitários chegaram reivindicando seu espaço. Divergente, Puros, Delírio... É uma lista em expansão. Apesar do “boom” recente, distopia é um gênero relativamente antigo, assim como o tema vampiresco. Antes da publicação das versões contemporâneas do gênero, os mais famosos eram conhecidos como a tríade distópica: Admirável Mundo Novo, 1984 e Fahrenheit 451.

Com a popularização, o conceito ganhou incrementos e também foi bastante suavizado. A temática original era realmente cruel e com várias inspirações políticas (1984 e o stalinismo na antiga URSS, Admirável Mundo Novo e um possível totalitarismo capitalista). Não havia espaço para romances entre adolescentes ou mudanças radicais. A modernidade trouxe saídas mais esperançosas para as novas distopias, que acabara caindo nas graças do público jovem.

A mais recente febre talvez seja a dos romances eróticos com requintes de sadomasoquismo, como Cinquenta Tons de Cinza. Pelo menos na Livraria Saraiva da minha cidade, colocaram uma estante nova só para esse tipo de livro.

Espero que essas febres não acabem sobrecarregando os gêneros ao ponto de causar aversão a alguns leitores, que acabam rotulando a categoria como “literatura ruim”. Isso acaba por diminuir as chances de um autor novato que deseja iniciar com esse tipo de conceito.

 É certo que haverão livros bem escritos e mal escritos, mas isso independe do seu gênero!

Com seus efeitos positivos e negativos, as febres estão aí para serem aproveitadas. Se elas serão momentâneas ou não, ainda não sabemos. Eu, particularmente, sou viciada em distopias e espero que o gênero cresça bastante, mas tenho medo que todo livro distópico ao ser lançado seja comparado automaticamente com Jogos Vorazes.


E vocês? Quais são as suas febres favoritas?

[Tags] A primeira tag do blog!


A primeiríssima tag foi passada pelo blog O Livro de Hoje, muito obrigada! As regras são:

- Passar a Tag para no mínimo 5 blogs ou se preferir pode passar para quem quiser responder, vocês decidem.              
- Tem que avisar os blogs que fez a Tag no prazo de uma semana.
- Tem que comentar o blog que fez a Tag, ou seja: Clichê Adolescente.
- Pode fazer quantas perguntas quiser.

1) Qual o livro que você sempre desejou ter, mas nunca comprou?
A culpa é das estrelas. Li esse livro pelo tablet, mas nunca cheguei a comprá-lo.

2) Qual o livro que marcou sua vida?
Orgulho e Preconceito, com certeza. Foi o livro que iniciou no universo de Jane Austen e dos livros clássicos.

3) Quantos livros leu este ano, e quantos pretende ler?
Catorze, eu acho. Pretendo ler pelo menos trinta!

4) Qual seu autor(a) preferido?
Difícil escolher só um. Meus favoritos são George Orwell, Jane Austen e Agatha Christie.

5) Qual o livro mais caro da sua estante? E o mais barato?
Acho que 1984 é o mais caro e o mais barato é Um Estudo em Vermelho, edição de bolso.

Minhas perguntas:

1) Qual é o seu gênero literário favorito?
2) Você já comprou um livro pela capa?
3) Há algum livro que você sempre tem vontade de reler?
4) Autor(a) favorito(a)?
5) Qual é o melhor livro que você já leu?

Deixo a tag em aberto para qualquer blogueiro que deseje responder.

[Resenha] Jane Eyre - Charlotte Brontë

Jane Eyre é uma menina órfã que vive com sua tia, a sra. Reed, e seus primos, que sempre a maltratam. Até que, cansada do convívio forçado com a sobrinha de seu falecido esposo, a mulher envia Jane a um colégio para moças, onde ela cresce e se torna professora. Com o tempo, cresce nela a vontade de expandir seus horizontes. Ela põe um anúncio no jornal em busca de trabalho como governanta. O anúncio é respondido pela senhora Fairfax, e Jane parte do colégio para trabalhar em Thornfield Hall. Lá, ela conhece seu patrão, o sr. Rochester, um homem brusco e sombrio, por quem se apaixona. Mas um grande segredo do passado se interpõe entre eles.

Se você acha que todos os romances são leves, com personagens bonitas e conquistadoras, homens invejáveis de tão perfeitos e um ambiente lindo, é melhor rever seus conceitos. Jane Eyre é a maior prova de que romances podem seguir um estilo bem diferente. A sinopse deveria cumprir o papel de descrever devidamente um enredo, mas não sei se confio em um simples resumo para dizer o quanto esse livro é impactante, ou melhor dizendo, viciante.

Jane Eyre não possui nenhum atributo físico que chame atenção. Aliás, quem diria que uma moça tão desinteressante poderia ser considerada uma personagem principal? Desde muito jovem, ela é condenada a viver com sua tia e seus primos. A palavra “maldade” não é suficiente para descrever as atrocidades que eles fazem com Jane. “Inferno” parece ser mais adequado. A violência para com uma criança tão pequena e sem culpa é extremamente revoltante e a repulsa sentida pela Sra. Reed parece ser inexplicável. Depois de um acidente que ocorre no quarto do falecido Sr. Reed, Jane é mandada para um colégio interno, sendo acusada de pecadora, mentirosa e vil (vale ressaltar que a história do livro se passa no século XIX). Após um longo tempo e já formada como professora, ela põe um anuncio no jornal e acaba sendo contratada por uma governanta para ensinar uma garota adotada pelo dono da propriedade. Em Thornfield, no meio de uma relação conturbada com seu patrão, o Sr. Rochester, Jane vai descobrindo aos poucos o que significa ser notada. Porém, mesmo com a vida carregada de tristezas, os acontecimentos que irão seguir Jane em Thornfield, depois de se apaixonar por seu patrão, serão ainda piores. Segredos e mais segredos parecem soterrar a recém descoberta felicidade de Jane Eyre, mas mesmo não tendo grandes qualidades, ela irá lutar e resistir a todas as provações como uma verdadeira heroína.

Apesar da minha sinopse enfatizando o trágico e os maus tratos, esse não é um livro essencialmente triste. Mesmo com toda a história difícil, Jane sempre demonstra ter maturidade em suas decisões, além de uma frieza quase inabalável. Quase, pois ao conhecer Edward Rochester, podemos conhecer um lado mais simples e terno de Jane. Aliás, as personagens desse livro são um dos pontos mais altos. O modo que as personagens são descritas, a interação, os gestos característicos, a história e o caráter são passados de maneira impecável. Parece que estamos diante de uma tela de cinema, vendo a história se desenrolar.

Jane não é uma heroína qualquer. Mesmo não chamando atenção pela beleza nem pela mente brilhante, ela é uma personagem que cativa o leitor. Talvez por ser tão sensata e madura desde tão cedo. Já do Sr. Rochester não podemos dizer o mesmo. Na verdade, mesmo com sua natureza cruel e rude, é impossível não se apegar a ele. Não sendo mais tão novo e não tendo uma aparência tão bela assim, Rochester não é nenhum sonho de consumo. Mas há algo nele que é fascinante. Os defeitos são salientados, mas não são tão agressivos quanto em O Morro dos Ventos Uivantes.

Muitos devem conhecer a autora de O Morro dos Ventos Uivantes, Emily Brontë, mas Charlotte Brontë é extremamente talentosa (ou até mais do que a irmã, na minha opinião), apesar de não ser tão famosa. Vale apena conhecer o trabalho de Charlotte, assim como o de Anne Brontë, a menos conhecida das três irmãs, mas em pé de igualdade em questão de qualidade.

De qualquer forma, como na época ainda havia preconceito contra mulheres que se tornam escritoras, Charlotte teve que publicar seu livro com um pseudônimo masculino, Currer Bell.

A narrativa é simples, porém culta, com descrições detalhadas, mas nada que prejudique a dinamicidade. Charlotte domina perfeitamente a narrativa. Não há mistério sem resolução e espaços vazios. Além das constantes surpresas e acontecimentos importantes. Claro, não podiam faltar críticas ao machismo, à opressão contra menores, bigamia e aos falsos moralistas religiosos que se aproveitavam do Divino para “condenar” ou “poupar” alguém ou até justificar as atitudes de um indivíduo. Mas o que a autora mais gosta de salientar, é que a mulher pode sim conseguir ascender com os próprios esforços, sem precisar de um casamento vantajoso.

Jane Eyre não é um romance cheio de açúcar e nele não há personagens perfeitos e adoráveis. Violência, ódio, maus-tratos e loucura fazem parte desse livro. Mas não pense que ele é pesado ou triste. Ele é real (principalmente por que é baseado em muitas das experiências vivenciadas pela própria autora). Não há um romance mascarado e falso onde tudo é perfeito. Mesmo para quem gosta do famoso água-com-açúcar (sou uma dessas pessoas), pode se encantar com o mundo arrebatadoramente real descrito por Charlotte Brontë e se deixar levar pela história dessa heroína trágica.

Informações sobre o livro
Título: Jane Eyre
Autora: Charlotte Brontë
Editora: Diversas editoras publicaram versões desse livro.
Páginas: Entre 400 e 624 dependendo da edição.
Preço: O preço varia a cada exemplar. Pocket - Tamanho padrão

Avaliação:

[Resenha] Divergente - Veronica Roth

Numa Chicago futurista, a sociedade se divide em cinco facções – Abnegação, Amizade, Audácia, Franqueza e Erudição – e não pertencer a nenhuma facção é como ser invisível. Beatrice cresceu na Abnegação, mas o teste de aptidão por que passam todos os jovens aos 16 anos, numa grande cerimônia de iniciação que determina a que grupo querem se unir para passar o resto de suas vidas, revela que ela é, na verdade, uma divergente, não respondendo às simulações conforme o previsto. A jovem deve então decidir entre ficar com sua família ou ser quem ela realmente é. E acaba fazendo uma escolha que surpreende a todos, inclusive a ela mesma, e que terá desdobramentos sobre sua vida, seu coração e até mesmo sobre a sociedade supostamente ideal em que vive.

Distopia está virando uma febre e disso todos nós sabemos. Desde a publicação de Jogos Vorazes, resgatando o tema do quase esquecimento, muitos autores se inspiraram para escrever histórias baseadas em um futuro sombrio e opressor.

Eu já havia ouvido falar em Divergente, mas nunca li a sinopse e nem sabia do que realmente se tratava, excluindo o fato de ser uma distopia. Alguma coisa me atraiu nesse livro e não foi a capa e muito menos os comentários no verso. Acho que foi o título mesmo. De qualquer forma, foi a escolha aleatória mais inteligente que eu já fiz.

A história do livro se passa em Chicago, em um futuro completamente diferente do que se imaginava. A sociedade está dividida em cinco facções que determinam seus costumes, seu modo de ser, seus amigos, sua aparência... Acima de tudo, as facções são responsáveis por manter uma espécie de equilíbrio que foi quebrado no passado devido a diversas falhas no comportamento humano (como a covardia, a ignorância, etc). Ao chegar aos dezesseis anos, Beatrice precisa tomar uma decisão muito importante e que irá definir sua vida daí em diante. Acontece que seus problemas simplesmente não acabam depois da tal escolha. Ela ainda será testada constantemente, vendo-se sempre a prova. Não posso adiantar nada mais sobre o enredo, pois o melhor de Divergente é a sensação de que você está mergulhando no desconhecido.

No começo, imaginei ter encontrado muitas semelhanças com Jogos Vorazes, mas depois de um tempo acabei percebendo que essas são as características que as distopias têm em comum. Quem não lê Divergente acreditando que é uma espécie de “cópia” de Jogos Vorazes não sabe o que perde. Mesmo pertencendo a esse universo, há algo estranhamente original nesse livro. Talvez seja o fato dele ser bastante surpreendente em alguns momentos, mas acredito que haja outros motivos. As personagens parecem ser muito bem trabalhadas e apesar das descrições não serem tão detalhistas assim, a partir de suas decisões e ações podemos conhecer um pouco mais de suas características psicológicas. Esse livro realmente me causou diversas surpresas. Nunca imaginei que uma história voltada para o público juvenil tivesse um enredo tão forte, apesar de não declarar suas “ideias” de forma explícita.

Podem me chamar de herege, mas eu vejo em Divergente uma influência de 1984 (George Orwell) e não uma cópia de Jogos Vorazes. A trama desse livro é tão inteligente e ao mesmo tempo tão fácil de ser lida que é provável que muitos devorem as 504 páginas com uma extrema rapidez! Claro, não é tão denso e cruel quanto 1984, mas alguns aspectos lembram bastante o ambiente retratado em uma das mais famosas obras distópicas do século XX. 

Há algo forte, determinado e inesperado nas personagens, até mesmo nas consideradas mais fracas. As reações são completamente inesperadas diante de situações em que elas são colocadas a prova e, acreditem, não são poucas.

Algo que é bastante ressaltado é a importância das escolhas. São elas que te definem e que justificam seus atos. Funciona como uma “carteira de identidade”. Pessoas que foram criadas juntas, sob os mesmos princípios e regras, ao tomarem decisões diferentes acabam sendo levadas a lugares e realidades muito distintas das que estavam acostumadas em sua vida anterior.

A grande diferença entre Divergente e algumas das distopias que estão no mercado atual de livros é a não consciência de que o futuro está “quebrado”, provocando uma falsa sensação de estabilidade e segurança. Praticamente todos os cidadãos vivem em uma espécie de redoma psicológica que os impedem de pensar, de se perguntar se as decisões que estão sendo tomadas são mesmo para o bem comum. Não é algo parecido com as atrocidades públicas que são visíveis para Katniss e para outras pessoas dos demais Distritos. Em Jogos Vorazes, o povo tem consciência de sua miséria (com exceção dos que vivem no luxo da Capital), o que acaba culminando em uma rebelião. Já em Divergente, o povo teoricamente vive em “paz”. Eles escolheram uma forma de paz que se materializou na forma das cinco facções: Audácia, Amizade, Franqueza, Erudição e Abnegação. A semelhança desse livro com 1984 está justamente nessas facções. Elas se assemelham bastante aos ministérios do Partido e são tão contraditórios como eles. Apesar disso, essa contradição não é visível por muitos e os atos considerados “estranhos” são claramente ignorados até que Tris desperta para esses detalhes. Sua principal escolha é a de ter coragem de pensar.

Eu sei que não foi uma explicação muito clara e essa me parece uma resenha um tanto pobre de detalhes, mas acontece que eu realmente não posso dizer muita coisa. Divergente é o tipo de livro que tem que ser lido quase "às cegas", apenas dispondo de algumas linhas gerais explicando alguns fatos. Talvez o enredo não tenha aguçado a curiosidade de vocês, mas eu garanto uma coisa: façam a escolha de ler e não se arrependerão. Sério.

Divergente é um livro que te deixa tanto empolgado quanto te dá o que pensar. Linguagem fácil, narrativas rápidas e eletrizantes, personagens tridimensionais, ação, intrigas políticas, questionamentos nas entrelinhas e um romance de derreter. Uma mistura que cativa atenção do leitor mais exigente. 
Ele não é doce, gentil ou especialmente bondoso. Mas é esperto e corajoso e, embora tenha me salvado, tratou-me como uma pessoa forte. Isso é tudo o que eu preciso saber.”
Já saíram várias fotos das gravações da adaptação cinematográfica de Divergente. O filme, aparentemente, promete ser bastante fiel ao livro. Gostei bastante da escolha dos atores, mas só se pode ter certeza de que eles se encaixarão nas personagens quando o filme sair de fato. Até lá, só podemos esperar por mais fotos e pelos trailers (e surtar com eles, claro).

Informações sobre o livro
Título: Divergente
Autor: Veronica Roth
Editora: Rocco
Páginas: 504
Série: Divergente.
Preço: Cultura - Saraiva - Submarino

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